A palavra "bola" é grandiosa, quase tanto como a expressão "marcar um golo", parecidas com o valor intrínseco da expressão (tão) minhota "pra bem era" que faz com que os desejos sejam mais que isso. Que faz com que os desejos morem no campo do apelo, para lá do que o esforço pode encaminhar. Porque no futebol, como na vida, há sempre espaço para lutas, mais ou menos fáceis, para não deixar cair os sonhos. E sonhar faz sempre parte, de todas as formas, em todas as cores e com todos os sentimentos.
Esta é a história de Pedro Lopes, o fisioterapeuta do Pevidém, do Campeonato de Portugal, que sonhou um dia pertencer ao mundo da bola e mesmo quando lhe mandaram guardar as chuteiras não as deixou penduradas a ganhar mofo, não se deixou ficar com as mãos afundadas nos bolsos e o silêncio na algibeira.
O Pedro arranjou forma de ter um lugar especial para continuar ligado ao desporto-rei e, ainda que não marcando golos nem fazendo defesas (quase) impossíveis, Pedro Lopes continua a ser um dos 'jogadores' com mais minutos na temporada dos vimaranenses do Pevidém Sport Clube.
"Devido a lesões que tive e ao tempo que fui passando no departamento médico, comecei a ganhar o 'bichinho' da fisioterapia"
"Quando era criança o sonho era claro ser jogador de futebol mas com o tempo vi que não ia ser possível então gostava de ter uma profissão que estivesse ligado ao futebol também. Provavelmente devido a algumas lesões que tive, e ao tempo que fui passando no departamento médico, comecei a ganhar o 'bichinho' da fisioterapia e acho que segui o caminho certo. Adoro a minha profissão e além disso posso ter os dois mundo, a fisioterapia e o desporto", confidenciou Pedro Lopes, em entrevista ao Jogo do Povo, no Bancada, onde não escondeu que a sua vida tem sido muito ligada à bola.
"Lembro-me desde pequeno jogar à bola sozinho e imaginava jogos. Normalmente sempre o Vitória contra alguém e o Vitória ganhava sempre", assegurou este vimaranense de 27 anos, que conhece como as palmas da mão as ruas de Pevidém, sobretudo a 'sua' rua Carvalho do Moinho, onde em pequeno o gosto pelo futebol também foi sendo cultivado.
"Queríamos ovo kinder não pelo chocolate, mas para usar como bola a cápsula onde vinha o brinquedo"
Aliás, a bola foi sempre motivo para fazer caminho na vida de Pedro Lopes. "No aniversário pedia sempre o bolo com a decoração com aqueles bonequinhos de jogadores onde guardava-os e fazia jogos nos tapetes imaginando e criando jogos", recordou o 'fisio' do Pevidém, recordando igualmente os tempos em que até nas idas ao café os pedidos especiais traziam 'água no bico'.
"Lembro-me também de ir com o meu pai ao café ao pé de casa e juntamente com dois amigos da mesma idade, que também iam com os pais deles, fazíamos jogos dentro do café onde a bola era a rolha de uma garrafa de água ou então pedíamos um ovo kinder, não pelo chocolate, mas sim para termos aquela cápsula onde vinha o brinquedo para usarmos como bola.
Ser do futebol quando crescer
"Quando for grande quero ser jogador de futebol". A frase é simples mas carregada de simbolismo para muitos que, em pequenos, sonham grande, com uma bola no centro das atenções. Em estádios mais modernos ou mais modestos, alguns a precisarem, ou não, de um 'botox' para parecerem mais 'atuais'.
Mas independentemente do palco, o futebol é sempre razão e motivo para se fazer acontecer a magia da bola. Nas vitórias como nas derrotas, na alegria ou na tristeza, porque o ganhar e o perder vão sempre a jogo na lógica das possibilidades quando nada não há empates.
E empatado na cabeça ficam sempre os momentos em que se percebe que é tempo de parar, de não jogar mais 'a sério'. Com Pedro Lopes não é diferente. "Há momentos em que ainda sinto saudades de jogar, mas na altura tinha que tomar uma decisão e penso que foi a mais correta", reconhece o fisioterapeuta que cuida da saúde e do físico dos jogadores do Pevidém Sport Clube.
E porque o futebol é um meio onde novos e velhos, ricos e pobres fazem um só, Pedro Lopes admite, nesta conversa com o Bancada, que há momentos que moram para sempre no campo da gratidão.
"Tem sido gratificante conhecer tanta gente ao longo deste tempo e principalmente as amizades que vou fazendo. Ainda hoje do meu grupo de amigos a maioria ainda são aqueles que conheci no futebol e aqueles com quem joguei durante tantos anos", disse Pedro Lopes.
"São laços que não se ficaram pelos relvados nem pelos balneários, mas sim pela vida fora", acrescentou este membro do departamento médico dos minhotos do Pevidém.
"Existe muita qualidade que por vezes passa despercebida no Campeonato de Portugal"
Aos 27 anos, Pedro Lopes dedica-se ao futebol por via da fisioterapia mas também pelo gosto que tem. Os dias da semana e os fins de semana são preenchidos pela bola de um fisioterapeuta atento e que vê "muita qualidade" nesta divisão.
"O Campeonato de Portugal (CP) é um campeonato que felizmente está a ter cada vez mais visibilidade pois existe muita qualidade que por vezes passa despercebida e acabam por perder-se muitos talentos. Acho que a atenção que estão cada vez mais a dar tanto ao Campeonato de Portugal como à Liga 3 por jornais como o vosso é uma grande oportunidade servindo assim de montra para muitos valores darem o salto que merecem e para o qual tanto trabalham", observou Pedro Lopes, concretizando com nomes a sua ideia.
"Na nossa equipa, por exemplo, tivemos o caso do Jorginho e do Castro que este ano foram para outros patamares e estão a provar que no Pevidém e no CP há muita qualidade", detalhou o fisioterapeuta, em entrevista ao Jogo do Povo, onde explicou que se sente "bem" no clube vimaranense onde desempenha funções.
"No Pevidém com pouco se faz muito"
"O Pevidém é um clube muito especial. É o clube da minha Vila, foi o clube onde comecei a jogar (ainda no antigo Grupo Desportivo de Pevidém que, em 2006, passou a designar-se por Pevidém Sport Clube), clube onde estreei-me como sénior e o clube onde voltei agora como fisioterapeuta e onde sinto-me em casa muito por fruto das pessoas que aqui trabalham (e muito) para que com pouco se faça muito", contou Pedro Lopes.
E porque ser grato é um dos mais nobres valores do ser humano, Pedro Lopes reconhece que é uma "sorte" trabalhar e representar a coletividade onde começou a dar os primeiros pontapés na bola mais a sério.
"Tive a sorte de poder trabalhar num dos maiores clubes nacionais durante 4 épocas, duas épocas e meia no futebol profissional, tendo assim noção das diferentes realidades que existem por isso dou muito valor ao trabalho que estas pessoas fazem, todos os dias, para que toda a gente consiga sentir-se com as melhores condições possíveis pois não é fácil uma vez que os recursos não são obviamente os que gostaríamos", admitiu o fisioterapeuta do Pevidém.
Ainda assim, é no meio das dificuldades que aparecem sempre soluções para que, semanalmente, a bola continue a rolar. "Isto faz com que tenhamos também uma responsabilidade acrescida no nosso trabalho, pois, além de estarmos a fazer o que gostamos, num clube que nos diz tanto não queremos também desiludir estas pessoas que vemos que são sempre o melhor si."
Pevidém desde pequenino
Entre o sonho e ambição há sempre memórias que o tempo e a sua erosão não apagam. Para Pedro Lopes, o Pevidém está sempre em jogo quando é para falar em recordações como aquela vez em que, ainda criança e de mão dada pelo pai, entrou no estádio do Pevidém que estava "praticamente cheio".
"Fiquei na bancada de pedra (como nós costumamos chamar)", recorda com saudade um tempo que, embora passado, vem sempre ao presente da recordação para lembrar que o futebol não acaba quando o árbitro apita. Que o diga Pedro Lopes. Depois dos jogos há sempre muito trabalho para preparar a equipa para o próximo jogo.
O mister sabe que pode contar com o departamento médico do Pevidém para que, no campo, os artistas possam estar sempre 'soltinhos' e preparados para dar alegrias aos adeptos. Afinal, quem começou a ver o Pevidém na bancada de pedra, não tem como lhe falhar.