Foi em 2005 que a Red Bull entrou no futebol, mas nunca como hoje o investimento feito pela companhia austríaca no desporto rei fez tanto sentido. O projeto enfureceu os adeptos do futebol mais tradicional, mais romântico e menos comercial. Na Áustria e especialmente na Alemanha, os “inimigos” desportivos que RB Salzburgo e RB Leipzig reuniram ao longo dos anos foram muitos. Hoje, porém, em novembro de 2018, este é um projecto solidificado e bem sucedido. À luz da sobriedade, este é um projecto visionário, sustentável e com o qual todo o Mundo do futebol pode aprender algo.
Numa altura em que, um pouco por todo o Mundo, os campeonatos nacionais voltam a parar para que os jogos de seleções regressem naquela que será a última janela para jogos internacionais de 2018, é com o RB Leipzig no pódio da Bundesliga e o RB Salzburgo como a única equipa europeia ainda sem qualquer derrota em qualquer das competições que integra em 2018/19 que o futebol de clubes dá lugar ao de seleções. Ao sucesso dos dois clubes europeus acresce ainda mais uma temporada bem sucedida dos Red Bulls de Nova Iorque que, depois de terem vencido a fase regular da MLS, venceram de forma concludente o Columbus Crew na meia final de conferência, marcando encontro com o Atlanta United na final Este da MLS e, por consequência, ficando a um passo de discutir o título nacional norte-americano.
2018/19 é já uma temporada de sucesso para os três clubes da Red Bull - esqueçamos o Red Bull Brasil, claramente o patinho feio do modelo de negócio desportivo da companhia austríaca -. Sim, o investimento foi avultado até aqui, mas é inocente pensar-se que este é um projeto puramente financeiro. Com um projeto bem delineado, com visão de futuro e vanguardista, o sucesso dos clubes da Red Bull vão muito além do dinheiro investido. Ou melhor, são fruto de um investimento pensado e de um projeto de futuro, pensado não no sucesso a curto prazo, mas a longo prazo. E, com isto em mente, a ideia é de que o melhor ainda está para vir para os clubes da Red Bull.
O investimento da Red Bull no futebol vai muito além do sucesso imediato. A aposta feita na formação, seja nas camadas jovens das equipas, seja na formação dos técnicos que são contratados para as gerir, faz do Salzburgo e do Leipzig dois dos clubes com maior futuro na Europa e com projetos do mais sustentável e visionário no futebol mundial. A contratação de nomes como Gerard Houllier ou Ralf Rangnick para a gestão dos projetos desportivos, ora globais, ora da equipa alemã em particular, bem como a constante aposta em técnicos jovens e revolucionários em qualquer um dos três clubes da companhia são sintomáticos da visão de futuro da companhia, algo, aliás, universal a toda a postura da companhia no desporto, do futebol à Fórmula 1.
Prova da aposta futura e sustentável da Red Bull no futebol e no desenvolvimento de uma ideia, mais do que o esbanjamento sem critério dos recursos ilimitados da companhia austríaca são as médias de idades apresentadas pelos clubes do grupo. Na Liga Europa, só o KRC Genk apresenta um plantel com média de idade mais baixa do que os dois clubes da Red Bull que participam na prova de entre todas as equipas presentes na edição desta temporada. Além disto, enquanto o Leipzig é a equipa com idade média do seu plantel mais baixa da Bundesliga, na Áustria, o Salzburgo só é batido pelo Admira Wacker, ainda que pertença ao Salzburgo o onze titular mais jovem da competição esta temporada quando à quinta jornada, Marco Rose escalonou um onze inicial com idade média de 22,8 anos onde o jogador mais velho, André Ramalho, tinha 26 anos. Não surpreende, por isso, se lhe dissermos que o Red Bulls de Nova Iorque é também o plantel mais jovem da MLS, certo?
Se existe o estigma no futebol de que a juventude e a inexperiência impossibilitam o sucesso desportivo de um clube, certamente os clubes da Red Bull servem de exemplo do contrário. A aposta na formação e nas camadas jovens já deu até os seus frutos, com o RB Salzburgo a ter-se sagrado campeão europeu sub-19 em 2016/17 às custas de um Benfica com nomes como Rúben Dias, Florentino, Jota, Gedson, José Gomes, Diogo Gonçalves ou João Félix. Era, na altura, treinador do Salzburgo o mesmo homem que hoje vai liderando a equipa sénior do clube austríaco a um início de temporada histórico: Marco Rose.
O investimento da Red Bull no futebol é inegavelmente forte, mas é errado pensar-se que o crescimento de clubes como o Salzburgo e o Lepzig apenas assentam no dinheiro gasto pela companhia nas equipas seniores. Bem pelo contrário. Em nenhum dos clubes a Red Bull apostou no sucesso imediato, contratando jogadores consagrados, nem numa altura em que o Leipzig é já um clube solidificado no topo da primeira divisão alemã. A aposta continua a ser na juventude e na irreverência, imagem de marca da companhia, com a generalidade das contratações a serem feitas em jogadores no escalão etário 17-24 anos, tornando este um projeto de futuro e altamente sustentável.
O maior investimento da companhia até foi feito nas camadas jovens dos clubes e nas infraestruturas dos mesmos, ao ponto de hoje Salzburgo e Leipzig terem das instalações de treino mais avançadas do Mundo, alimentada por técnicos e ciência desportiva dos mais competentes e avançados possível no futebol mundial. Ou seja, o sucesso conseguido pelos três clubes da Red Bull está longe de se cimentar na compra de jogadores. É, sim, produto de um projecto delineado, vanguardista e sustentável com os olhos postos no futuro, mais do que no presente. A contratação antecipada de Julian Nagelsmann, por exemplo, por parte do Leipzig para a temporada 2019/20 é também disto sintomático, com a aposta do clube, assente na visão de Rangnick, a não se limitar a encontrar jogadores que se adaptem ao estilo e filosofia do clube - muito assente no futebol de alta pressão do qual Rangnick é adepto -, mas também treinadores cuja identidade tática se adapta a essa filosofia.
Nas equipas do grupo está-se, realmente, “dez anos à frente” e tanto no que ao Salzburgo e Leipzig diz respeito, acentuou-se nos últimos anos a presença de ambos os clubes nas várias seleções jovens quer da Áustria, quer da Alemanha. Dos escalões mais jovens às equipas principais dos dois países, em praticamente todos os planteis nacionais da Áustria e da Alemanha existem jogadores do Salzburgo e do Leipzig. Mais do que qualquer outra coisa, os dois clubes europeus da Red Bull são hoje exemplos daquilo que é possível alcançar quando o planeamento é feito a médio e longo prazo e a aposta na juventude e irreverência é o pilar central de todo o projeto. Contraste total com o modelo habitual de clubes da Premier League, por exemplo, como o Chelsea e o Manchester City cujo crescimento foi feito primeiro no investimento desmedido em jogadores consagrados e só nos últimos meses na base e coração do clube: as camadas jovens.
Goste-se ou não da forma como surgiram os clubes e com a forma como a Red Bull entrou no futebol, uma coisa é certa: poucos clubes no Mundo têm um projeto tão sustentável, delineado e com uma filosofia tão vincada quanto Salzburgo e Leipzig. Está cada vez mais próxima a primeira grande conquista de um clube do grupo, resta saber qual vai ser.