Um dia, alguém disse que os jogadores são limitados e intelectualmente pouco desenvolvidos. Há quem diga até que são burros. Para o contrariar, está Wouter Dronkers, o guarda-redes que quer ser neurocirurgião. Sim, aquele que mexe num dos órgãos mais importantes do corpo humano.
Se a experiência com as mãos valer de alguma coisa, Dronkers está bem aviado. Afinal, são alguns anos a usar as mãos como instrumento de trabalho. Ele que, no balneário, chega a ser tratado por “o sábio”, “o professor” ou… “Sr. Doutor”, claro está.
De onde veio tudo isto?
A ideia de trocar o futebol pela carreira académica veio da frustração. Dronkers nunca teve oportunidades nas equipas A do Twente e do Vitesse. “Nunca dei o último passo e isso chateou-me. E quanto mais isso me chateava, mais eu estudava e mais tempo passava em bibliotecas, para provar a mim próprio que sou capaz de fazer coisas”, explica.
Dronkers é internacional sub-20 pela Holanda e chegou a fazer parte do plantel do Twente treinado por Steve McLaren. Esteve, até, num jogo da Liga Europa. Aos 24 anos, o holandês trocou o Vitesse pelo Boston City FC, da quarta divisão dos Estados Unidos. Um passo atrás? Não, muitos passos atrás. Mas só no futebol. Esta mudança permite a Dronkers continuar o sonho de ser cirurgião quando a carreira de futebolista terminar. Porquê? Porque no seu quarto ano de medicina, numa universidade de Roterdão, está a fazer investigação no Boston Children’s Hospital e na Harvard Medical School, perto de Boston.
“Abrir um cérebro é uma realização”
“Pode soar estranho, mas a primeira vez a abrir o cérebro de alguém é uma realização”, dispara, à BBC, assumindo que tem interesse por medicina, psicologia (é licenciado nessa área), astrofísica e inteligência artificial. Todos assuntos comuns num balneário de futebol, certo?
O jogador holandês garante que não tem a vida perfeita que lhe é atribuída: “As pessoas veem-me como um menino de ouro, que tem tudo, mas não conseguem ver o trabalho árduo, com manhãs de treino e noites de estudo”.
Para além de neurocirurgião, Dronkers tem outro sonho: ser astronauta. “O que sempre me interessou é o espaço. Digamos que existe 0,00000001% de hipóteses de haver vida noutra galáxia. Para mim, é um 100%, porque o universo é muito grande. O meu grande sonho é ser astronauta”.
Lampard é um génio
O caso de Dronkers é mais bizarro, porque envolve neurocirugia e astrofísica, mas há outros exemplos bem conhecidos de jogadores com interesses mais eruditos do que a generalidade dos colegas de profissão.
Temos o exemplo de Francisco Geraldes, já apresentado pelo Bancada, bem como o de Sol Campbell. No entanto, há mais: Frank Lampard é conhecido por fazer parte dos 0,5% da população mundial que está num nível "génio" de QI. Tem pouco menos do que, por exemplo, Albert Einstein. Sócrates, ex-internacional brasileiro, exerceu medicina, após o final da carreira, enquanto Glen Johnson, internacional inglês, é um especialista em matemática. Exemplos raros e que podem ser seguidos, num futuro próximo, por Wouter Dronkers.