Jogo do Povo
Os Sandinenses. Quem quer golos pede ao Totas
2024-01-04 16:40:00
Entrevista a Totas, jogador de Os Sandinenses, do Campeonato de Portugal

No compêndio de história do futebol minhoto o nome Pedro Miguel de Sousa Rego pouco dirá aos adeptos mas se alguém mencionar Totas, aí, é certo que os adeptos de futebol de Os Sandinenses, rapidamente sabem de quem se trata, até porque quando querem golos 'pedem' ao Totas. O avançado da formação que milita no Campeonato de Portugal conversou com o Jogo do Povo sobre os desafios e as metas que tem, aos 28 anos, de uma vida pautada pelo futebol que é coisa de família.

Mais do que filho de Carlos Rêgo ou sobrinho de Vítor Paneira, Totas tem nome próprio na arte dos golos e no futebol deixa uma marca de alegria no sorriso dos adeptos do seu clube. Nascido e criado em Vila Nova de Famalicão, o camisola 99 de Os Sandinenses tem feito carreira quase sempre em clubes da zona do Minho, algo que tem uma explicação clara.

"Creio que isso se deve ao facto de ter jogado sempre futebol num registo 'amador'. Apesar de competir algumas vezes em campeonatos profissionais, como o Campeonato de Portugal e a Liga 3, sempre treinei em horário pós laboral", justificou Totas, não negando que alinhar em clubes próximos da sua zona de residência permite conciliar o futebol e a atividade empresarial.

"Ainda hoje sou mais conhecido por Totas do que por Pedro, porque até fora do contexto futebolístico me conhecem assim"

"O facto de ser no meu distrito facilita na logística", admitiu Totas, que satisfez a curiosidade relativamente ao nome que não é comum pelo qual é conhecido no meio desportivo.

"Desde muito novo que me chamam Totas. Quando era criança as pessoas mais chegadas a mim chamavam-me Pedrocas, e a ligação vem daí", revelou o avançado, 'culpando' um primo que era presença habitual na sua vida diária.

"Foi através de um primo com quem tinha uma convivência praticamente diária, e que tendo sensivelmente a mesma idade que eu, trocava o Pedrocas pelo Totas. Ainda hoje sou mais conhecido por Totas do que por Pedro, porque até fora do contexto futebolístico me conhecem assim", explicou Totas ao Jogo do Povo.

"Tanto nos sacrificamos nós, como as pessoas com quem convivemos"

A vida do futebol tem períodos de encantamento, de magia e euforia. Mas o futebol convive também com ausências, com distâncias e intermináveis momentos em que olhar para o relógio a bater as horas mais não é que um exercício de sofrimento para quem sonha ver entrar pela porta dentro alguém que está longe.

Com Totas o futebol é razão e motivo de alegrias mas também de algumas ausências, afinal, a "parte difícil" do futebol. "Tanto nos sacrificamos nós enquanto intervenientes, como as pessoas com quem convivemos", reconhece, recordando que tantas vezes o prato na mesa fica para mais tarde porque os treinos são, desde a formação, em horas de jantar, mas também a ajustes no menu.

"Mudava-se a ementa porque havia jogo... Ainda hoje se refletem estes sacrifícios"

"Mudava-se a ementa porque havia jogo... Ainda hoje se refletem estes sacrifícios, e sinto que com o passar dos anos tenho mais consciência deles. Abdico de imensas coisas para jogar futebol. Mas, neste momento, não sinto que os custos sejam superiores aos benefícios, e portanto, enquanto continuar a pensar assim, continuarei a jogar", enfatizou o camisola 99 de Os Sandinenses, certo de que é preciso sempre ter as coisas bem alinhadas para nada falhar.

"Adoro futebol. Desde pequeno que ia a qualquer lado com uma bola, todos os fins de semana acompanhava os jogos do meu pai enquanto treinador, e também desde cedo tive uma grande vontade em competir por um clube", confirmou Totas, admitindo, porém, que a paixão pela bola nunca cegou outros objetivos.

Se antes o futebol dividia horários com a carteira da escola, agora é com a vida profissional porque há mais vida para lá dos remates à baliza no relógio de Totas. "Sempre tive uma outra atividade. Quando era mais novo, a minha atividade era a escola, agora é a atividade profissional" como administrativo numa empresa fundada pelo pai Carlos Rêgo. 

Gestão bancária para lá dos golos

E para as contas certas, por entre remates certeiros, foi preciso esforço e dedicação e com as equações bem traçadas, Totas foi capaz de finalizar o curso de gestão bancária com sucesso.

"Não posso dizer que era um amor de perdição, mas era algo que sempre encarei como fundamental, e que me iria criar as bases necessárias para o futuro", confirmou o jogador.

Ainda que não fosse alguém a 'morrer de amores' pela escola, sempre a viu como um meio fundamental para triunfar no mundo empresarial. "Não era um apaixonado pelos estudos, mas encarava-os como um compromisso. Nesse aspeto, sempre fui dedicado". 

E a dedicação acaba por ser também fundamental num Campeonato de Portugal que tem vindo, porém, a perder impacto. "Creio que o Campeonato de Portugal perdeu qualidade com a entrada da Liga 3. Se olharmos às equipas que estavam no CP há três ou quatro anos atrás, e olharmos hoje, vamos perceber aquilo que estou a dizer".

Ao Jogo do Povo, Totas deu conta, todavia, que o Campeonato de Portugal (CP) continua a ser um lago de talentos onde emergem figuras que acabam por subir na hierarquia do futebol luso.

"Continuamos a assistir todos os anos a jogadores a saírem do CP para campeonatos profissionais, e estou seguro que isso continuará a acontecer", vaticina Totas, certo de que, apesar disso, o CP continua a ser uma prova desafiante para quem nela participa.

"Não considero que a competitividade tenha diminuído, simplesmente acho que está com um nível mais baixo". Mas o que não baixa é a paixão e a entrega de Totas ao futebol, que lhe tem dado não apenas a alegria do jogar mas também "amizades para a vida".

Para muitos como para Totas, o "futebol é muito mais do que um jogo" e sinal disso são experiências que tem colecionado e abraços que se eternizam entre amigos que se fazem nos balneários. Porque o futebol será sempre a justificação perfeita para animar o povo.

"O futebol é convívio e festa dentro da competição. Do futebol distrital à final da Liga dos Campeões, há claramente uma grande diferença de qualidade e envolvência, mas não deixa de ser futebol e não deixa de ser interessante", vinca Totas, recordando troféus que tem vindo a conquistar mas, sobretudo, experiências que tem dentro mas também fora de campo, como quando joga a Seleção Nacional.

"Vem logo à minhta cabeça as esplanadas cheias de gente a apoiar nos jogos de Portugal", recordou Totas sobre momentos que, dentro de poucos meses, voltarão a ser vistos um pouco por todo o país. Para já, segue o futebol dos clubes das terras, dos emblemas onde a cada dia se dá tudo e não se pede nada. É o Jogo do Povo no seu esplendor.