Domingos Castro, 60 anos, que encabeça o ‘Movimento de Mudança’ na candidatura às eleições para a Federação Portuguesa de Atletismo, agendadas para dia 12 de outubro, participou num debate, organizado pela Associação de Atletas de Atletismo, que juntou os três candidatos – além de Domingos Castro também os atuais vice-presidentes da FPA Fernando Tavares e Paulo Bernardo se candidatam e estiveram presentes.
André Pereira, presidente da Associação de Atletas de Atletismo, considerou este debate como uma “oportunidade única para conhecer as ideias propostas para a federação de atletismo”.
O debate foi moderado por Paulo Costa e eis a intervenção de Domingos Castro.
- Porque se candidata?
Tive a felicidade de atingir um patamar elevado a nível nacional e internacional como atleta e tomei a decisão de dar à modalidade tudo o que ela me deu. Acho que estou superpreparado, com uma equipa supercompetente em todas as áreas. Há áreas que não domino, mas tenho pessoas na equipa que as dominam e escolhi os melhores dos melhores. Em tudo na vida temos de fazer contas como se estivéssemos na nossa casa, e estando na federação temos de a gerir como uma empresa porque só assim poderá andar para a frente.
- Porquê a Casa das Seleções?
O nosso pensamento primeiro vai para os atletas, é a pensar neles que surge este projeto. Porque hoje os estágios dos nossos jovens são dois, três dias. Antigamente eram oito dias no mínimo, é nos estágios, no convívio com todos que começa a verdadeira essência do atletismo. E esta Casa das Seleções estará aberta para todos os atletas, para que as seleções nacionais possam ali fazer os estágios para as suas provas. Posso dar conta que temos conversado, eu e o Paulo Guerra, com a Federação Espanhola de Atletismo para podermos realizar um intercâmbio entre atletas de Portugal e de Espanha, para que os atletas usufruam das condições conjuntas, para treinarem em simultâneo ora em Portugal, ora em Espanha, sobretudo nos centros de alto rendimento que eles têm em altitude. O objetivo é apoiar todos os atletas de todas as disciplinas, desde logo os das disciplinas técnicas que nos últimos anos têm elevado o nome de Portugal.
- 5,8 milhões euros financiamento atual que a FPA recebe, do IPDL e Santa Casa. Como ampliar receitas?
Este é o maior problema da federação, a falta de capacidade para angariar fundos, algo aqui assumido pelos dois candidatos… sendo que eles neste momento estão lá dentro. Se a FPA quer evoluir isso não se consegue sem dinheiro. Temos reunido com câmaras municipais, com empresas que nos abriram as portas e estão recetivas para investir na federação, com patrocinadores. Os grandes organizadores das provas de atletismo em Portugal assumiram que estão connosco e vão investir, temos essa garantia. A minha equipa tem atletas que foram heróis do atletismo no passado e isso ajuda a abrir portas de várias empresas que querem investir no atletismo… mas que nunca o fizeram porque nunca as procuraram.
- Que mensagem transmitir a um jovem que está agora a começar o seu percurso no alto rendimento?
Temos de começar pela base, no desporto escolar. Temos dois vices, o Paulo Guerra e a Sara Moreira, que vão trabalhar afincadamente nessa área. Temos um plano, com a ajuda de um patrocinador, para investir no apoio aos jovens talentos. Mas também temos de ajudar as associações financeiramente para apoiarem os clubes e os jovens que têm potencialidades. É preciso capacidade financeira e condições para que os atletas se sintam motivados, desde logo os de alto rendimento.
- Os atletas que recebem bolsas queixam-se que até as viagens têm de pagar depois do bolso deles…
Esta questão das bolsas… se eles se estão a queixar é sinal de que não há transparência... No percurso da preparação quando é atribuída uma bolsa de 30 mil euros a um atleta e depois é-lhe retirada metade dessa verba… ñ se percebe. O maior ativo da modalidade são os atletas e a eles não pode faltar nada, só com o rendimento deles conseguirão tornar-se exemplos para os mais novos. Sei que há muitos atletas que estão melindrados com a federação e isso não pode acontecer. Há um conjunto de situações que desconhecemos, mas isto só demonstra que a federação não consegue sobreviver só com o dinheiro estatal, são precisos mais recursos, recorrer aos privados para que os atletas de alto rendimento apenas possam concentrar-se nas provas, na obtenção de medalhas e não em perceber como pagar as suas viagens.
- Diretor Técnico Nacional sim ou não, no próximo ciclo olímpico?
Sim. Temos procurado um perfil para esse técnico com cuidado. Já o temos. Uma pessoa que tenha muita facilidade de comunicação, quando está com os outros técnicos que não seja conflituoso e que tenha liberdade para escolher a equipa dele para cada área e eles é vão trabalhar no terreno.
- Como conseguir ter em Portugal mais meetings que que contribuam para o ranking dos atletas? Neste momento só temos meetings nível D…
Posso garantir que no próximo ano Portugal terá um meeting de nível C. Estou em crer que ao termos atletas internacionais de renome será mais fácil obter apoios. A este nível os eventos terão de ser transmitidos em canal de televisão aberto e temos essa garantia que acontecerá.
- Campeonato Europa Corta-Mato em Lagoa em 2025, quais os objetivos?
Como é que um jovem atleta do meio-fundo e fundo se consegue motivar se já sabe que a federação não o leva. A federação deve levar todos os atletas das equipas sobretudo no corta-mato. O meio-fundo e fundo sempre foram as disciplinas que nos deram medalhas e visibilidade, por isso temos de levar as seleções todas e os melhores atletas com equipas completas. Essa é uma preparação que comigo tem de começar a ser feita logo desde novembro deste ano. Já tive uma reunião com uma TV sobre o Cross das Amendoeiras em Flor e sobre o Campeonato da Europa de Lagoa 2025 e claro que eles estão interessados em transmitir.
- Como recuperar o cross, meio-fundo e fundo?
É preciso motivação, treinar à chuva e ao sol… e a realidade é que as equipas têm poucos apoios ou nenhuns. É preciso um forte apoio e investimento. Precisamos muito que os clubes grandes tenham atletismo em força para voltarmos a ter visibilidade e nesse sentido gostaria que também o FC Porto voltasse a ter atletismo, espero ter oportunidade, em breve, de conversar com o presidente André Villas-Boas sobre isso mesmo.
- Que eco tem recebido dos atletas em relação a questões como fisioterapia, ginásios, nutrição, etc?
É para isso precisamente que estamos a criar a Casa das Seleções na Marinha Grande. Para que nada falte aos atletas em todas as áreas sempre que eles precisarem. Volto a repetir a nossa principal preocupação são os atletas, todos de todas as disciplinas.
- Qual a opinião sobre a disponibilidade de pistas cobertas em Portugal?
Dia 19 vou ter um encontro com uma autarquia para lhe lançar um desafio conjunto com outra federação, para a concretização de um pavilhão multidesportivo, um projeto de raiz, para a criação de uma infraestrutura que sirva as duas modalidades. Acredito, pelo feedback que já tivemos, que dessa reunião saiam frutos positivos que ajudarão mesmo muito a nossa modalidade no futuro.
A Associação de Atletismo de Lisboa, presente no debate, deu conta que nunca recebeu qualquer apoio da FPA para a organização de meetings, por exemplo, e pegando nesse mote questionou sobre como pensam os candidatos dar mais apoios para as associações.
- Temos de trabalhar para uma proximidade muito grande com as associações, apoiando-as para assim conseguirem apoiar os atletas, sobretudo na formação. Temos planos para as ajudar e como o fazer. Já falámos com os organizadores das grandes provas em Portugal e estão de acordo para contribuírem com uma verba após a realização de cada prova que eles realizem.
No final, Domingos Castro questionou os restantes candidatos sobre a razão de não terem colocado em prática as medidas que agora apresentam nos seus programas. Ambos admitiram “falhas” da atual Direção, com Paulo Bernardo e Fernando Tavares descartarem-se e sublinhando que não se revêm na gestão liderada por Jorge Vieira.
“Somos uma equipa competente e diferente e atendendo ao feedback que temos recebido da forma como a modalidade está, ela precisa de uma mudança e é nisso que estamos empenhados, porque somos a única equipa que está empenhada em mudança e não na continuidade”, finalizou Domingos Castro.
Sobre Domingos Castro
Aos 60 anos, Domingos Silva Castro, natural de Guimarães, é atualmente empresário. Foi atleta de elite durante mais de 20 anos, tendo representado Portugal nos Jogos Olímpicos de Seul (1988), Barcelona (1992), Atalanta (1996) e Sydney (2000).
Foi vice-campeão do Mundo nos 5 mil metros em 1987, em Roma; vice-campeão da Europa de corta-mato, em 1994; além de campeão nacional em diversas modalidades.
É, ainda, o detentor do recorde nacional nos 20 e 25 km desde 1999 e 1996 respetivamente. Venceu a Maratona de Paris e Roterdão, em 1995 e 1997, respetivamente; obteve a medalha de prata na Maratona de Nova Iorque, em 1999.
Foi campeão europeu individual da Taça dos clubes Campeões Europeus de corta-mato em cinco ocasiões e venceu coletivamente a Taça dos Clubes Campeões Europeus de corta-mato em outras sete ocasiões; entre muitos outros troféus.