Opinião
Pavel Vrba e a marca de bom futebol
2018-02-23 15:00:00

Mesmo que o sorteio dos oitavos não tenha trazido nenhum bicho-de-sete-cabeças ao Sporting, o Viktoria Plzen não é uma equipa que deva ser menosprezada. É garantido que Jorge Jesus reúne bastante mais probabilidades de passar à próxima eliminatória do que na eventualidade de um embate contra o Atlético de Madrid, Leipzig, Lyon, Arsenal ou Lazio, só para citar alguns dos nomes na tômbola de Abidal e Marchetti.

No entanto, o Viktoria Plzen eleva o nível de dificuldade na tarefa em comparação com o Astana. Ao contrário do emblema do Cazaquistão, o nível técnico dos checos, no geral, é relativamente bom. E apesar dos dois defesas-centrais com mais de 1.90m de altura, a linha mais recuada atua frequentemente subida, para compactar o bloco e apertar as opções de passe do oponente. Na sequência, ganhando a bola, o Plzen toca bem a bola na aproximação à zona ofensiva, destacando-se Kopic e Kolar no controlo de bola. Zeman, o flanqueador canhoto do cabelo cor de rosa, é outra peça no aparelho mais adiantado deste emblema que lidera, destacado, o campeonato checo. O facto é que, com Pavel Vrba no comando técnico, o Plzen “dá baile” no campeonato local, inclusivamente ao Slavia e ao Sparta. E essa folga na liga checa pode permitir a Vrba dirigir muito mais energia na campanha europeia.

Vrba já foi selecionador do seu país, antes de ter ido para a aventura do Anzhi, na Rússia. A ideia da federação checa era ter alguém que, naquela atura, reavivasse a condução do talento natural dos checos como, em tempos, Karel Brückner havia feito. Essa escolha não foi, obviamente, feita ao acaso. Vrba é um dos maiores nomes do treino e do futebol de ataque na República Checa, sendo muito ligado na partilha de ideias a Brückner, o antigo selecionador que dirigiu os checos com distinção no início da década de 2000, capitalizando a geração de Cech, Nedved, Poborsky, Smicer e Baros com um estilo sedutor, de apelo criativo. Brückner pode ter sido um dos inspiradores da ideia ofensiva de Vrba. Mas o atual treinador do Plzen foi o principal responsável dos títulos de 2011 e de 2013, contando com o centrocampista Pavel Horvath, que não teve uma estada muito prolongada em Alvalade nos tempos de Boloni.

O Plzen não alcançou a fase de grupos da Liga dos Campeões da presente temporada porque foi eliminado pelo Steaua na 3.ª pré-eliminatória. Sim, precisamente o Steaua que foi esmagado pelo Sporting no play-off posterior. No entanto, os checos não devem ser desvalorizados e comprovaram-no contra o Partizan nos dezasseisavos. Apesar de terem perdido Martin Chrien para o Benfica, estabilizaram nesta época o meio-campo com dois médios-centro recuperadores – Hrosovsky e Horava – que, numa base de 4-2-3-1, potenciam mais liberdade atacante a Kopic e Kolar no envolvimento com o ponta de lança.

Tomas Chory, que era da seleção de sub-21 no último Europeu da categoria (suplente do ‘romanista’ Patrik Schick) foi adquirido mais recentemente ao Sigma Olomouc, clube por quem anotou vários golos na 2.ª divisão. É um avançado com um perfil semelhante ao de Lokvenc ou Koller, lembrando torres do passado. Tem quase dois metros de altura e é útil para um plano alternativo que privilegie mais jogo aéreo para provocar pânico na área do adversário. Em princípio, deve ser opção secundária, em detrimento de Krmencik, ponta de lança já titular na Seleção-A e igualmente forte no jogo de cabeça.

Na perspetiva de passar aos “quartos” da Liga Europa, o sorteio podia ter sido bem mais complicado para o Sporting. Porém, Jesus não vai querer os leões a baixar a guarda em Alvalade como aconteceu na 2.ª mão contra o Astana. Chegar à próxima eliminatória é um cenário viável, mas vai obrigar a uma grande elasticidade na gestão do plantel para gerir o cansaço por via das várias provas em simultâneo. O campeonato continua a merecer o foco máximo.

Luís Catarino é comentador da Sport TV e escreve no Bancada às sextas-feiras.