Jogo do Povo
Marco 09. 'Rebola bola a mostrar como é' nas terras de Carmen Miranda
2024-01-25 16:15:00
Entrevista a Joel Soares, treinador-adjunto do Marco 09, do Campeonato de Portugal

Por entre os rios Douro e Tâmega, Marco de Canaveses não é apenas o berço que viu nascer Carmen Miranda ou a terra onde está edificada a ‘cidade romana de Tongobriga’. 

Gravado na linha do seu destino, o Marco de Canaveses viu nascer um clube de futebol que, ao longo dos anos, fosse qual fosse o palco, se foi mostrando no mundo da bola e orgulhando os marcoenses. Ou como cantava Carmen Miranda, 'rebola bola vou mostrar como é que é'. E os marcoenses têm mostrado.

Muitos, ao dia de hoje, ainda recordam com saudades os tempos idos do passado, nomeadamente, na memória estão cravadas tardes de futebol na Tapadinha, esse palco sagrado no orgulho dos adeptos do Marco, onde tantas vezes muitos se encavalitavam nos ombros de familiares e amigos para ver o Marco jogar.

E foi carregado pelos ombros de muitos que o Marco se fundou, se fez e caminhou num futebol onde nem sempre se caminha para a frente. Por vezes, a marcha é mais lenta. Há alturas em que é preciso recuar e em outras até parar. Mas em Marco de Canaveses parar não é sinónimo de morrer, como diz o velho ditado.

O Marco, o Futebol Clube do Marco, que em tempos foi presença habitual na então Liga de Honra, o segundo escalão do futebol português, caiu nas profundezas e na ‘escuridão’ do futebol. Mas o amor ao Marco foi sempre alimentado, muitas vezes na sombra do desejo de voltar um dia.

O Marco enfrentou problemas e caiu. Agora, está de volta porque, muitas vezes, é na sombra que está a solução. E foi essa busca que tornou o Marco 09, uma espécie de filho que quer ser herdeiro de um Futebol Clube do Marco de outrora, ainda que essa seja uma questão que ainda divide opiniões.

O Marco está no meio da população, o Marco visita escolas do concelho, o Marco associa-se a causas solidárias e vive pelos resultados mas também para lá deles. Porque o futebol é, como alguém eternizou um dia, 'a coisa mais importante das menos importantes'.

Foi, pois, em Marco de Canaveses que o Jogo do Povo encontrou um clube que tenta voltar ao sucesso de outros tempos, marcado e empurrado pelo desejo de vitória e glória. É, afinal, pela vitória que tudo se começa, ou recomeça. Mas também pelo gosto do futebol, de ver a bola a rolar aos domingos.

No Estádio Municipal do Marco de Canaveses, antes Estádio Avelino Ferreira Torres, milita uma equipa que alinha na Série B do Campeonato de Portugal e que, apesar de alguns sobressaltos, esperam os marcoenses que o pior esteja já para trás.

Nos campeonatos nacionais 17 anos depois da última participação, o Marco tenta caminhar para a frente, sabendo que nem sempre tudo corre como esperado. 

Muito do trabalho que Joel Soares faz é feito longe dos holofotes

O Marco 09 vai com a terceira equipa técnica da época mas há um elo que cola todas elas: Joel Soares, treinador adjunto. Trabalhou com Bock, com Pedro Barroso e agora com Nuno Pedro. 

O jovem treinador, formado em Educação Física, encontrou no clube da sua terra e pelo qual se deixou cativar em criança, espaço para ajudar a fomentar o gosto pelo futebol.

Muito do trabalho que Joel Soares faz para o Marco é feito longe dos holofotes. Mas é o trabalho deste adjunto da equipa técnica e de tantos outros adjuntos por esse país fora que fazem com que as equipas tenham condições para brilhar em campo, sobretudo numa competição exigente como é o Campeonato de Portugal.

“O Campeonato de Portugal é um campeonato muito competitivo, das 14 equipas da nossa série, nove equipas são da Associação de Futebol Porto mais o São João de Ver, Beira Mar, Vitória B, Florgrade e Lamelas”, referiu Joel Soares.

Um amor ao clube desde as viagens para o estádio no Austin Montego azul do tio

O adjunto do Marco lembrou ainda que nesta competição grande parte das equipas “são compostas por jogadores e equipas técnicas com muita qualidade”. Por isso, aumenta a exigência que anda (quase) sempre de mãos dadas aos resultados.

“O futebol sénior é rendimento, logo está preso ao resultado. Quando a equipa faz o que foi trabalhado durante a semana o treinador fica feliz (golo de bola parada, uma jogada trabalhada)”, enfatizou o marcoense, apontando para a necessidade de se fazer um trabalho com “muito foco” e “muito profissionalismo” para que em dia de jogo tudo corra como esperado. 

“Quem trabalha bem durante a semana está mais preparado para ganhar, logo está mais perto do sucesso, algo que deixa os adeptos felizes”, destacou Joel Soares.

“Os adeptos são a força do Marco e é por eles que trabalhamos ao longo da semana”, admitiu o treinador adjunto, também ele um adepto do Marco, desde os tempos em que ia com o tio no carro para os jogos, em criança, de Austin Montego azul.

Com uma rotina bem corrida, Joel Soares é os olhos e os ouvidos da equipa técnica na avaliação e análise dos opositores, sobretudo num patamar de divisão nacional.

“Exige mais trabalho”, reconhece o técnico adjunto do Marco, explicando que a sua função passa por fazer a análise do adversário.

“Vejo muitos jogos, faço cortes de lances para os quais acho que se devem alertar os nossos jogadores”, detalhou, sublinhando que “o trabalho fica mais facilitado porque existe uma plataforma para ver os jogos (wyscout)”.

Em dia de jogo, o papel de Joel Soares está também definido. “Filmo o jogo e dou informações do adversário e da nossa equipa aos meus colegas”, revelou Joel Soares que entrou como profissional no Marco através dos Marquitos, os escalões mais jovens do Marco.

Atualmente, faltam horas aos dias de Joel Soares que, como tantos outros protagonistas do futebol no Campeonato de Portugal e Liga 3, não vive exclusivamente do que a bola lhe gera de rendimento. Por isso, é também em escolas do concelho do Marco de Canaveses que faz do ensino outra fonte de proveitos.

“Às 9h00 estou no estádio e saio por volta das 13h00. Dou aulas das 15h00 às 17h ou 17h30”, contou Joel Soares, admitindo que mesmo quando chega a casa ainda passa uma vista de olhos pelos processos que tem para avaliar e tratar.

Dar aulas em seis escolas do concelho de Marco de Canaveses permite a Joel Soares manter contacto com muitas crianças da região e que, no futuro, podem vir a ser os craques do Marco 09. Sobretudo porque o treinador gosta de manter o olhar sobre o futebol bem presente.

“Desde de pequeno que vejo jogos de futebol na televisão. O meu pai gosta de futebol e passou esse gosto, essa paixão, para mim”, revela este antigo praticante de futsal que é hoje uma das figuras do Marco 09, numa carreira construída a pulso.

“Nos jantares de equipa e quando fomos campeões na Câmara Municipal do Marco de Canaves foi top a desgarrada do Timóteo. A primeira vez foi na viagem de regresso após vitória contra o Sousense”

“Recebi o convite do coordenador da formação, o Nuno Cunha, para treinar os Marquitos. Posteriormente, entrei na equipa sénior através do José Oliveira com a função de fazer a análise interna. No ano seguinte, o presidente Edu e o mister Pedro Vilaça quiseram que continuasse. Não hesitei em aceitar, pois estou no clube do meu coração”, admitiu Joel Soares que tem já alguns episódios caricatos para contar, mas nenhum como as desgarradas de Timóteo.

“Nos jantares de equipa e quando fomos campeões na Câmara Municipal do Marco de Canaves foi top. A primeira vez foi na viagem de regresso após vitória contra o Sousense”, recordou o adjunto, certo de que esses momentos ajudam a “fortalecer o espírito de grupo”.

Marco 09, um clube próximo da população

E porque o futebol não é apenas aquilo que se vê no jogo, feito de golos, de jogadas de génio, de substituições que mudam uma partida muitas vezes para melhor (outras para pior), feito de equipas em versão máquinas de triturar adversários, Joel Soares promete continuar a analisar pontos fortes e fracos dos adversários, a imaginar desequilíbrios, a pensar onde se pode fazer a rotura, a tentar descobrir espaços num futebol onde há cada vez menos espaço para surpreender.

Mas também porque a gratidão vai a jogo na vida deste adjunto do Marco 09, além de um “obrigado” aos "todos" os dirigentes que confiam no seu trabalho, fica também um agradecimento aos vários treinadores e equipas técnicas com as quais tem trabalhado pela confiança e “por todas as aprendizagens”. Mencionando todos eles na entrevista "sem exceção", o técnico-adjunto destacou a importância da família para que a vida do futebol, que é tão corrida, possa estar organizada.

'Rebola bola vou mostrar como é que é, um batuque rebolado da cabeça até o pé, pé, pé'

Uma palavra do adjunto do Marco 09 também para alguém que na arte do treino o inspira há vários anos e que dá pelo nome de José Mourinho, com quem gostaria de passar uma semana de treinos.

“Para mim, é o melhor treinador a nível tático, estratégico, na comunicação e liderança”, apontou Joel Soares, justificando a sua ideia com aquilo que gostaria de descortinar em Mourinho no trabalho.

“A relação dele com os jogadores, a planificação de uma semana de trabalho, a preparação do adversário ao longo da semana, a palestra no dia de jogo e como intervém ao intervalo”, indicou Joel Soares, certo de que pelo Marco de Canaveses o plantel vai continuar a dar tudo pela vitória, ou como Carmen Miranda celebrizou: 'rebola bola vou mostrar como é que é, um batuque rebolado da cabeça até o pé, pé, pé'".