Todos os sonhos do mundo cabem numa bola de futebol. Entre ricos, pobres, mais ou menos remediados, algum dia na vida todos querem ser como alguém que viram jogar.
Entre as décadas de 80, 90 e a de 2000, Romário de Souza Faria era um dos mais famosos jogadores de futebol. O ‘Baixinho’, como lhe chamavam, tinha mediatismo de popstar, rivalizava com os grandes ícones do mundo da fama e tinha um talento no futebol que lhe dava estatuto.
Romário era falado nas conversas de café ou nas horas livres no emprego, tinha as suas fotos coladas às paredes dos quartos da ‘garotada’ e mesmo entre graúdos também ditava tendências.
Não admira, por isso, que muitos jovens brasileiros nascidos entre os anos de 1980 e 2000 se chamem Romário.
O Jogo do Povo encontrou um em Brito, na zona minhota do país. E mais do que as fintas e jogadas no relvado, este Romário destaca-se também pelas funções que desempenha no centro social.
“Tenho quase sempre duas ou três noites de sono a menos que os outros atletas. Certamente se eu conseguisse descansar mais o meu rendimento seria outro”
O Campeonato de Portugal é um patamar que Romário conhece, já são vários anos no país, mas ao longo do tempo o desgaste faz-se sentir, também porque tem de conciliar o futebol com o emprego/missão.
"Na maioria das vezes faço três noites para conseguir jogar ao domingo"
“Trabalho com pessoas especiais no Centro Social de Brito, no polo Paraíso”, começou por explicar Romário, realçando que há três anos que joga e trabalha.
“Vou fazer três anos que trabalho lá. Quando saí do Lank Vilaverdense fui para o Brito para jogar e trabalhar. Na época da pandemia”, recordou Romário, confessando que a rotina de jogador e trabalhar acaba por ditar desgastes, sobretudo por causa dos turnos.
“Na maioria das vezes faço três noites para conseguir jogar ao domingo. Às vezes, faço quartas, quintas e sextas à noite seguidas para conseguir jogar”, contou Romário.
Ao Jogo do Povo, este médio nascido em Santa Maria da Vitória realça que quando vai para os jogos vai quase sempre em desvantagem no que toca ao descanso.
“Tenho quase sempre duas ou três noites de sono a menos que os outros atletas. Certamente se eu conseguisse descansar mais o meu rendimento seria outro”, admitiu Romário.
O futebol e o emprego fazem parte da rotina do atleta na certeza de que poderia melhorar a sua folha de registos dentro de campo. Mas além da bola há uma paixão por aquilo que faz.
“Amo os utentes e trato-os como família. Por exemplo, por vezes chego a trabalhar até as 23H00 e jogo no outro dia”, reforçou Romário, contando que os jogos do Brito no Campeonato de Portugal são uma festa para os utentes do Centro Social.
“Às vezes vão lá ver os jogos”, contou Romário, revelando que os utentes acabam por se manifestar quando percebem que o auxiliar de saúde da instituição está com a camisola do Brito vestida em campo.
E entre os adeptos há sempre a eterna “cobrança” vinda da bancada. “Sempre que vou trabalhar eles comentam e ‘cobram’ para eu fazer golos para eles”, disse Romário, entre sorrisos, ciente de que os jogos do Brito para esta comunidade valem mais do que simples futebol.
Em campo com Neymar, Galeno e Tielemans e não só
O Campeonato de Portugal é, pois, um palco de felicidade para os adeptos e um espaço para alguns talentos se revelarem.
“É uma competição feita de oportunidades para os jovens prosseguirem e conseguirem os seus objetivos na carreira profissional”, observou Romário, do Brito, um clube que procura sempre a “manutenção” e obter o “maior número de pontos possíveis” em cada época.
O jogo a jogo é uma filosofia no Brito para o jogador que se fixou no Campeonato de Portugal, recentemente, depois de algumas passagens por clubes de nomeada europeus, como os belgas do RSC Anderlecht, onde viveu uma das experiências mais caricatas de que se lembra.
Nome: Brito Sport Clube
Associação: AF Braga
Estádio: Parque de Jogos do Brito SC
Após um treino, foi para o balneário tomar banho. Só que devido à religião de alguns, o banho era com calções. Como ninguém o avisou, Romário tomou banho como estava habituado.
Embora o idioma não estivesse dominado, os olhares dos colegas foram suficientemente esclarecedores para Romário, ele que já se cruzou em campo com alguns dos jogadores que o inspiram a cada treino e partida como Neymar, Galeno, Paolo Guerrero e Cássio (ambos do Corinthians) ou Youri Tielemans, atualmente na Premier League.
Já Romário segue a sua viagem em Brito na certeza de que mais do que os golos ou assistências em campo com a camisola do clube minhoto, ser auxiliar de saúde no centro social acaba por ser algo que, por lá, engrandece a sua vida.
Porque no futebol como na vida, independentemente da função no campo, o importante é a missão de cada um.