Eis o tempo das transmissões de futebol com tecnologia de ponta. Eis o tempo do slow motions, dos superslow motions e sempre com mais e melhores repetições. O tempo do HD, do superHD e do futebol feito geometria. 

Tudo se sabe, tudo se procura saber da equipa e do adversário. Neste futebol vamos ao detalhe. Ao detalhe do detalhe.

Eis o tempo em que os jogadores, antes de o serem, tantas vezes já são mediáticos. O tempo em que a viagem para os treinos já não é na carrinha do clube.

Eis o tempo em que os pais fazem ginástica no horário para tudo bater certo entre o emprego e a hora do treino. Eis o tempo, sempre o tempo, esse grande mestre. E o tempo guarda também as melhores e mais valiosas memórias.

O princípio da certeza do futebol entre as incertezas do resultado

O futebol mudou, mas o tempo e o espaço do futebol continuam a ser e a ter a mesma magia dos primeiros tempos. É inevitável.

Não é que seja uma questão de física quântica entre tempo e espaço, porque esses, sabemos, passam ao lado quando a ideia, os teóricos da bola dizem ‘objetivo’, passa apenas por controlar uma bola e levar com sucesso até à baliza. Fazer golos.

O futebol de hoje trouxe visões de outras áreas. Mas existirá sempre o princípio da incerteza. E isso torna o futebol atrativo. É na inevitabilidade que se fazem os sonhos e crescem as estrelas. 

Heisenberg no seu princípio da incerteza assumia que, por mais que o mundo quisesse relacionar grandezas e medir, é sempre difícil precisar na exatidão o movimento e a posição. 

Ao conhecer uma das medidas, perde-se a precisão da outra. No futebol é o que acontece. Por mais fatores que se dominem, por mais exata que alguma coisa possa ser, uma simples e curta deslocação altera tudo. Posição e quantidade de movimento são essenciais. Dominá-las é fundamental. Conseguir medir para travar o adversário é que é uma tarefa mais complicada.

O futebol vive da incerteza e é isso que o torna tão popular a nível mundial. Mesmo a equipa mais modesta num dia em que os astros se alinham pode travar uma equipa mais poderosa.

É nesta certeza de que existe a incerteza no futebol que o Vila Real segue o seu caminho. Cada vez mais próximos do país litoral que, outrora os deixava mais isolados, os túneis que rompem montanhas aproximam em tempo e espaço o movimento da bola para lá do Marão.

Entre os rios Cabril e Corgo, e com uma moldura da natureza impactante, o Jogo do Povo esteve à conversa com André Liberal, jogador do Vila Real, do Campeonato de Portugal. 

Mesmo a equipa mais modesta num dia em que os astros se alinham pode travar uma equipa mais poderosa.

E foi com ele que ficamos a perceber quais os objetivos do Vila Real. Mas ficamos também a compreender que mesmo quando se atinge o topo da formação, as memórias permanecem inalteradas.

“Desde que me lembro que sempre fui um apaixonado pelo futebol. Lembro-me quando era criança o presente que eu pedia aos meus pais era uma bola de futebol”, recordou Liberal.

"O futebol foi um dos grandes professores"

A bola, sempre a bola entre os sonhos mais sonhados. “Na altura da escola, os intervalos eram passados a jogar futebol, mesmo que não houvesse campo eu e os meus colegas improvisamos sempre com duas pedras a fazer de baliza, o que importava era a diversão e a felicidade que nos sentíamos”, lembrou o avançado de 21 anos.

Acima de tudo porque “o futebol foi um dos grandes professores” da vida de André Liberal.

“Ensinou-me que se não houver humildade, vamos pagar caro por isso, entre outras coisas tal como o respeito e trabalho coletivo”, identificou o jogador, nesta entrevista ao Jogo do Povo, no Bancada.

Para lá do Marão...

Muitos dos primeiros pontapés na bola foram no recreio da escola mas também em Casas Novas no concelho de Chaves, onde este transmontano tem as suas raízes.

“Ainda hoje estão lá as pessoas mais importantes da minha vida”, reconheceu André Liberal, recordando também os tempos em que viajava para os treinos à boleia da carrinha do clube.

“No início ia sempre na carrinha do clube no final das aulas e essa carrinha era de 9 lugares, ou seja, tinha de ir e vir algumas vezes”, observou Liberal, que pelo sonho da bola cedo deixou o lar dos pais.

“A maior parte das pessoas que estão comigo sabem que a fase mais difícil foi quando saí de casa com 14 anos à procura de um sonho. Tive de abdicar de muitas coisas, da minha zona de conforto, de estar com os meus amigos, de festas, tudo por um único propósito”, assinalou.

Foi assim com André Liberal, foi assim com tantos aspirantes a craques. Mas há um que serve sempre de exemplo para muitos jovens portugueses mas também a nível mundial: Cristiano Ronaldo.

• Nome: Sport Clube Vila Real
• Associação: AF Vila Real
• Estádio: Complexo Desportivo Monte da Forca

O capitão da Seleção Nacional é a referência de muitas gerações. “A minha referência sempre foi e será o Cristiano Ronaldo. A forma como olha para este desporto, como se prepara, a sua mentalidade, como lida com as adversidades e sua dedicação”, enfatizou André Liberal.

Defrontar jogadores com dobro da idade é ferramenta poderosa

O jogador do Vila Real aproveitou também para mencionar quais têm sido os desafios que tem encontrado num campeonato nacional que não sentiu na formação.

“Há uma grande diferença que é: na formação jogas com jogadores da mesma idade (se jogares no teu escalão), e no campeonato nacional de seniores apanhas jogadores com o dobro da idade, com mais experiência e que na minha opinião é uma grande vantagem porque ajudam sempre os mais jovens dentro e fora de campo”, admitiu Liberal.

As dificuldades fazem crescer os grandes e André Liberal espera que tudo seja uma aprendizagem ao longo da carreira. E quem sabe um dia possa ‘dar o salto’.

“Como temos visto ao longo dos anos, vários jogadores que estiveram no Campeonato de Portugal, passados 2/3 anos estão no futebol mundial, e são uma grande referência para todos os que estão neste campeonato. Eu sempre tive um sonho que é ser jogador profissional de futebol e fazer disso a minha vida”, projetou André Liberal.

Só o tempo é que ditará qual será o espaço do jogador do Vila Real. Mas fica a certeza de que para lá do Marão há ideias para aperfeiçoar o jogo dos jogos.

“Gostaria de implementar medidas para promover a inclusão e a igualdade no desporto, garantindo oportunidades para todos os jogadores, independentemente da sua origem, género ou condição socioeconómica”, apontou o jovem de 21 anos.

Assim, a ideia do avançado do Vila Real parte essencialmente de fomentar “iniciativas para melhorar a saúde e o bem-estar dos atletas, bem como medidas para combater o racismo, a discriminação e a corrupção no futebol.”