Prolongamento
O “inferno branco” que coloca o Vitória sempre entre os grandes
2021-10-17 15:00:00
Massa associativa sempre fiel à equipa dos conquistadores nos bons e nos maus momentos

O Vitória de Guimarães é um dos clubes mais marcantes da história do futebol português. O emblema nunca foi campeão nacional, ao contrário de Belenenses e Boavista, e já viu o rival SC Braga fugir nos troféus (5-2 para os 'arsenalistas'), mas há um título que não foge ao Vitória Sport Clube: a devoção dos adeptos. Uma devoção que coloca o clube ao nível dos três 'grandes'.

Não lhe chamem Guimarães, que eles não gostam. É Vitória. Mesmo quando o clube andou pela II Liga, os adeptos mantiveram-se fiéis. Nos bons e nos maus momentos, os conquistadores aparecem para apoiar a equipa. Por vezes, alguns excedem-se e chegam ao ponto de exigir satisfações ao plantel ou à equipa técnica. Não foi só uma vez, nem duas... Treinador que assuma o comando técnico do Vitória sabe que um voto de confiança do presidente não é suficiente, tem é de conquistar os sócios.

O “inferno branco” é assim. Fervoroso na dedicação, implacável no amor ao clube. Mesmo treinadores reputados tiveram de lidar com essa dificuldade acrescida quando passaram pelo clube. “Sinto-me mais pressionado no Vitória do que no Sporting”, afirmou publicamente Augusto Inácio, numa entrevista à RTP-África. O mesmo treinador que tinha levado o Sporting ao título após 18 anos de jejum.

Durante um longo período, o Vitória foi liderado por Pimenta Machado. Mas nem o icónico dirigente conseguiu domar por completo o “inferno branco”, apesar da equipa treinada por Marinho Peres ter chegado aos quartos de final da Taça UEFA, na temporada 1986/87. Pimenta Machado foi detido em dezembro de 2002, devido à transferência de Fernando Meira para o Benfica. Na origem do processo esteve uma queixa apresentada por um associado do Vitória.

Já depois do caso Ndinga, da queixa-crime por tentativa de difamação movida pelo António Rola e da desobediência a uma providência cautelar, Pimenta Machado acabaria por se demitir. E o Vitória prosseguiu, sempre com muitas dúvidas, tanto no plano desportivo como no campo financeiro, e uma única dúvida: todos podiam contar sempre com um “inferno branco” na bancada a apoiar a equipa. Mesmo que, em vários jogos, esse apoio mais intimidasse a própria equipa, pressionada a ganhar, dos que os adversários...

Já o inferno desportivo ocorreu na temporada 2005/06, com a descida ao segundo escalão. Com 34 pontos, tantos como o Rio Ave, o Vitória foi o 17.º classificado. Só o Penafiel fez pior, com 15 pontos. E desceram os três de divisão (na mesma época do famoso Caso Mateus, com o Belenenses SAD a ser repescado após a descida administrativa do Gil Vicente). O Vitória já tinha estado no segundo escalão entre 1955 e 1958.

Esse inferno desportivo durou um ano. Com o apoio do “inferno branco”, Manuel Cajuda levou o Vitória ao segundo lugar, a cinco pontos do campeão Leixões. E os dois clubes, ambos históricos, regressaram ao principal escalão. E foi com Cajuda no banco que, nessa época de regresso à I Liga (2007/08), o Vitória terminou o campeonato à frente do Benfica, repetindo o terceiro lugar de 1968/69, 86/87 e 97/98, a melhor classificação de sempre.

Manuel Cajuda está ainda na memória do “inferno branco”, que não se esquece dos técnicos que foram bem sucedidos ao passarem pelo clube, como José Maria Pedroto, Raymond Goethlas, António Morais, Marinho Peres, Paulo Autuori, Manuel José, João Alves, Jaime Pacheco, Augusto Inácio e Quinito.

Já em anos mais recentes, treinadores como Rui Vitória, Sérgio Conceição e Pedro Martins também deixaram a sua marca no clube. “Está na hora de voltarmos a ter o 'inferno branco'”, repetia Rui Vitória, na época em que levou a equipa ao triunfo na Taça de Portugal (2012/13). Junto com este troféu, no palmarés do Vitória, está a Supertaça de 1988/89.

Pelo clube passaram também vários jogadores que se tornaram ídolos do “inferno branco”. Damas, Neno, Nuno Espírito Santo, José Carlos, Costeado, Dimas, Fernando Meira, Geromel, Quim Berto, Paulo Bento, N´Dinga, Pedro Martins, Zahovic, Capucho, Pedro Barbosa, Vítor Paneira, Pedro Mendes, Nuno Assis, Ademir, Roldão, Soudani, Edmur e Paulinho Cascavel são apenas alguns exemplos.

Com D. Afonso Henriques no símbolo, o Vitória Sport Clube promete nunca abandonar o espírito guerreiro do Rei que fundou Portugal. Atue em casa ou jogue fora, a equipa dos conquistadores terá sempre um “inferno branco” para a apoiar.