Da magia nos relvados ao trabalho no gabinete, Rui Costa é um nome incontornável na história do Benfica.

Desta forma, qualquer biografia de Rui Costa tem necessariamente de começar pelo seu percurso no Benfica, onde envergou a icónica camisola 10, passando pela aventura no futebol italiano e terminando no Benfica, onde regressou para agora presidir ao clube do coração.

Porém, não podemos esquecer que Rui Costa sucedeu a Luís Filipe Vieira, tendo trabalhado de muito perto com o controverso ex-presidente do Benfica. Foi assim que, já como presidente do Benfica, Rui Costa seria constituído arguido num megaprocesso de corrupção desportiva.

Recorde os principais momentos de Rui Costa, desde jogador a dirigente desportivo e presidente do Benfica.

Rui Costa: Biografia de um ídolo do Benfica

Então, como é que Rui Costa chegou ao Benfica? Pois bem, esta biografia começa em 1972. No dia 29 de março, Rui Costa nasce na Damaia, no concelho da Amadora.

Aos 9 anos, após quatro temporadas nos escalões mais baixos do Damaia Ginásio Clube, Rui Costa participa nos treinos de captação do Benfica. E logo desperta a atenção do mítico Eusébio, que ficou impressionado pela classe do miúdo.

Rui Costa continuou a formação no clube encarnado, registando ainda uma breve passagem pelo Fafe, por empréstimo. De regresso ao Benfica, Rui Costa vence a Taça de Portugal de 1992/93 e, na temporada seguinte, é campeão nacional.

Campeão mundial sub-20

Antes de conquistar os principais troféus do futebol português, Rui Costa era já seguido com atenção por vários dos melhores clubes do mundo.

Afinal, o maestro fez parte da Seleção Portuguesa campeã mundial de sub-20, em 1991, sob o comando de Carlos Queiroz. Aliás, Rui Costa chegou à partida decisiva dessa prova graças ao golo que Rui Costa marcou na meia-final, com a Austrália.

Rui Costa, o príncipe de Florença

Pois bem, um dos clubes mais atentos às exibições de Rui Costa era a Fiorentina. Em 1994, o clube italiano pagou cerca de seis milhões de euros para contratar o médio do Benfica, clube que então lidava com graves problemas financeiros.

Tem algumas dúvidas sobre a enormidade que eram esses seis milhões de euros nessa altura? Então, saiba que Rui Costa foi a transferência mais cara do mundo nesse ano.

Durante sete temporadas, Rui Costa justificou a aposta da Fiorentina com exibições de luxo. Jogando atrás do goleador argentino Gabriel Batistuta, o português foi várias vezes eleito o melhor médio ofensivo a jogar em Itália, à frente de craques como o francês Zinédine Zidane, da Juventus.

Com a camisola ‘viola’, Rui Costa ganhou duas Taças de Itália e uma Supertaça. Todavia, a qualidade do príncipe de Florença era já demasiada para uma equipa como a Fiorentina.

Foi então que surgiu o poderoso AC Milan.

Campeão europeu pelo AC Milan

Em 2001, o AC Milan contrata o treinador Fatih Terim, que fez um trabalho impressionante na Fiorentina. E o técnico turco não hesitou em fazer-se acompanhar do seu melhor jogador: Rui Costa.

Silvio Berlusconi, um dos presidentes mais titulados do mundo, mandou pagar 36,6 milhões de euros pela contratação de Rui Costa. Nunca o AC Milan tinha pago tanto por um reforço.

Valeu a pena, pois o médio português deixou de ser o príncipe de Florença para ser um dos reis da Europa. Na época 2002/03, o AC Milan bate o rival Inter Milão (com Sérgio Conceição em campo) na meia-final da Liga dos Campeões, marcando presença na final da prova.

Uma final que foi um clássico de Itália. Após o nulo no final do prolongamento, o AC Milan derrota a Juventus nos penáltis e conquista a Liga dos Campeões. Rui Costa era campeão europeu, com o clube italiano a ganhar o título pela sexta vez. 

Euro 2004

No entanto, faltava a Rui Costa conquistar um título com a camisola da Seleção Nacional. O maestro fazia parte da ‘geração de ouro’, sendo um indiscutível ao lado de craques como Vítor Baía, Fernando Couto, Luís Figo e João Vieira Pinto.

Porém, Portugal desiludiu no Mundial 2002. E a FPF foi buscar o técnico Luiz Felipe Scolari, precisamente o treinador que levou o Brasil a ganhar esse Campeonato do Mundo.

Certo é que Rui Costa se impôs logo como uma das apostas de Scolari, quando Portugal se preparava para organizar o Campeonato da Europa de 2004. Campeão europeu pelo AC Milan na época anterior, Rui Costa era visto como uma das grandes figuras do Euro 2004.

Só que a Seleção Nacional perdeu com a Grécia, no jogo de estreia. E Scolari trocou Rui Costa por Deco, que havia sido campeão europeu pelo FC Porto nesse mesmo ano de 2004.

O maestro seria suplente utilizado nos jogos com a Inglaterra, nos quartos de final, e com a Grécia, na final. E mesma Grécia que venceu Portugal no jogo de abertura do Euro2004 voltou a ganhar nessa final.

E assim terminou o sonho de Rui Costa ganhar um título pela equipa nacional. Já tinha estado nos Europeus de 1996 e 2000, além desse Mundial de 2002. Foram 94 jogos com a camisola de Portugal, com um total de 26 golos.

Rui Costa regressa ao Benfica

Com mais de uma década de sucesso no futebol italiano, era hora de Rui Costa regressar ao clube do coração. Todavia, o médio ainda tinha mais uma temporada de contrato com o AC Milan, clube onde ganhou:

• 1 Liga dos Campeões;
• 1 Supertaça Europeia;
• 1 Serie A;
• 1 Taça de Itália;
• 1 Supertaça de Itália.

Sensível ao desejo do português, o AC Milan aceitou a rescisão. E Rui Costa assinou pelo Benfica, em maio de 2006.

O maestro jogaria duas épocas com a camisola encarnada, mas não voltaria a ganhar um troféu como jogador. Foram 778 jogos oficiais na carreira, tendo apontado 115 golos. 

O braço direito de Luís Filipe Vieira

Logo após pendurar as botas, Rui Costa é oficializado pelo presidente Luís Filipe Vieira como o novo diretor desportivo, em maio de 2018.

A magia passou dos relvados para os gabinetes. Como diretor desportivo, Rui Costa contratou outro camisola 10 de renome, Pablo Aimar. Foi também o responsável por reforços do Benfica como Javier Saviola, Ramires e Javi García, entre vários outros.

Em articulação com o presidente Luís Filipe Vieira, Rui Costa é também responsável pela escolha do treinador do Benfica. E, em 2009, chega à Luz o técnico Jorge Jesus.

O trabalho de Rui Costa como diretor desportivo começou a dar frutos. Nessa época de 2009/10, o Benfica volta a ser campeão, terminando com um jejum de cinco anos. Para mais, ganhou a Taça da Liga numa final com o rival FC Porto.

A página mais dourada seria escrita em 2014, quando o Benfica conseguiu o pleno nas provas nacionais: ganhou campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça.

Rui Costa: Presidente do Benfica

Só que a proximidade de Rui Costa e Luís Filipe Vieira acabou por tornar-se uma sombra sobre o antigo craque da Luz.

Em julho de 2021, Luís Filipe Vieira é detido por suspeitas de burla qualificada (no caso do ex-BES), fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e abuso de confiança em relação ao próprio Benfica.

Antes, Vieira foi constituído arguido em outros processos, como a Operação LEX e a Operação Saco Azul. No entanto, nunca foi pronunciado.

À data, o mundo encarnado questionou a integridade de Rui Costa. Teria ele conhecimento dos alegados crimes praticados por Luís Filipe Vieira? Teria Rui Costa sido negligente, caso Vieira tivesse efetivamente lesado o Benfica?

A resposta foi dada nas urnas. Luís Filipe Vieira renunciou e Rui Costa avançou para o ato eleitoral, após ter assumido interinamente a presidência do clube. O mágico pretendia ser legitimado no cargo. E apresentou-se a votos, nas eleições antecipadas de outubro de 2021.

Rui Costa ganhou com 84,4 por cento dos votos. O novo presidente do Benfica foi legitimado nas eleições do Benfica mais participadas de sempre, com mais de 40 mil votantes. 

FootLab: Rui Costa reage à “canalhice”

Todavia, essa campanha eleitoral ficou marcada pelo caso FootLab. Outro candidato à presidência do Benfica, Francisco Benítez, acusou Rui Costa de usar a empresa FootLab para fazer negócios com o Benfica.

Essa acusação envolveu também o filho de Rui Costa, Filipe Costa. De acordo com uma carta enviada por Benítez ao Conselho Fiscal do clube, Rui Costa e o filho teriam usado uma alegada parceria da FootLab com o Benfica para “lucrar com venda de jogadores”.

Para agravar as suspeitas, a FootLab patrocinou um clube adversário do Benfica, o Casa Pia, durante duas temporadas.

Após entregar as suas respostas ao Conselho Fiscal do Benfica, Rui Costa deu entrevistas para repudiar essas acusações. “É uma canalhice. Não vale tudo para denegrir a minha imagem”.

De Jorge Jesus a Schmidt

Como diretor desportivo, Rui Costa teve um papel determinante nas escolhas do presidente Luís Filipe Vieira. É certo que Vieira tinha a palavra final, mas o ex-jogador vinha a subir na hierarquia da estrutura encarnada, chegando a administrador da SAD e vice-presidente.

Desta forma, Rui Costa teve a sua parte de responsabilidade no regresso de Jorge Jesus, técnico que em 2015 tinha trocado o Benfica pelo Sporting.

Portanto, quando ‘herdou’ a presidência do Benfica com a demissão de Vieira, Rui Costa ‘herdou’ Jorge Jesus como treinador da equipa principal. Cerca de três meses após ganhar as eleições do Benfica, Rui Costa acertou a rescisão com Jorge Jesus, na sequência de um “desentendimento” com alguns jogadores, como o então capitão Pizzi.

Sai Jorge Jesus, entra Roger Schmidt

Pela primeira vez, o maestro tinha a oportunidade de assumir totalmente a responsabilidade pela contratação de um treinador. Rui Costa escolheu Nélson Veríssimo como treinador interino, para o resto dessa temporada de 2021/22, enquanto ‘folheava o catálogo’.

Em junho de 2022, o presidente Rui Costa apresentou o novo treinador do Benfica: Roger Schmidt, o alemão que levou o PSV a conquistar uma Supertaça e uma Taça dos Países Baixos (Holanda).

A escolha de Rui Costa teve sucesso. Na época de estreia, Schmidt levou o Benfica a ganhar campeonato e, de seguida, Supertaça. Como consequência, nova decisão de Rui Costa: o Benfica renovou com o treinador alemão 2026.

Rui Costa arguido por corrupção

Tudo parecia entrar nos eixos para o presidente Rui Costa. Até que chegou 2023. Logo no início do ano, o Benfica e seus administradores da SAD foram constituídos arguidos por corrupção desportiva. Por inerência, também Rui Costa foi constituído arguido.

A investigação do Ministério Público (MP) refere-se ao período entre 2016 e 2020. O presidente era Luís Filipe Vieira, mas Rui Costa era um dos administradores da SAD do Benfica. E o MP acredita que a SAD pagou subornos a árbitros e jogadores adversários para adulteração de resultados, em benefício do Benfica.

Rui Pinto e emails do Benfica

O megaprocesso do MP tem um outro nome bem conhecido dos adeptos do Benfica: Rui Pinto. Na verdade, a investigação do MP teve início em 2018, na sequência de emails do Benfica divulgados por Rui Pinto.

A matéria recolhida pela PJ em casos como Vouchers e Mala Ciao foi toda reunida num só processo, concentrado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal. E foi no âmbito desse processo único que Rui Costa foi constituído arguido, tal como outros administradores da SAD à época.

Quanto a Rui Pinto, recorde-se que foi julgado pelo acesso ilegítimo aos emails do Benfica, entre outros crimes. O pirata informático foi condenado a quatro anos de prisão com pena suspensa. Dos 90 crimes, Rui Pinto respondeu apenas por nove, beneficiando de uma amnistia concedida aquando da visita do Papa Francisco a Portugal.

Os jogadores de Rui Costa

Primeiro como diretor desportivo e depois como presidente do Benfica, Rui Costa encontrou ou avalizou reforços que acabariam por se tornar figuras notáveis da equipa encarnada.

Ao mesmo tempo, Rui Costa liderou vários negócios que se mostraram muito rentáveis para os cofres da águia.

Neste capítulo, não há melhor exemplo do que Enzo Fernández. O médio argentino fez apenas meia temporada na Luz e foi vendido (ao Chelsea) por 121 milhões de euros. O Benfica só tinha gasto 18 milhões para o contratar ao River Plate.

Antes, o Benfica já tinha lucrado com a venda de Darwin Nuñez ao Liverpool. “Chegar uma proposta de 75 milhões de euros mais 25 milhões de opção, olhando para o mercado internacional, não havia condições de recusar”, justificou Rui Costa.

Nos dois primeiros mercados de transferência (verão de 2022 e janeiro de 2023) com Rui Costa como presidente, o Benfica contratou jogadores como:

• Di María

• Kökçü

• Arthur Cabral

• Anatoliy Trubin

• Marcos Leonardo

• Gianluca Prestianni

• Benjamín Rollheiser

• Álvaro Carreras

Em sentido inverso, Rui Costa autorizou as saídas (por venda, não renovação do contrato ou fim de empréstimo) de jogadores como:

• Gonçalo Ramos

• Gonçalo Guedes

• Lucas Veríssimo

• Chiquinho

• Julian Weigl

• Gabriel Pires

• Jurásek

• Petar Musa

Rui Costa, maestro até nas contas do Benfica

Olhando apenas para os números, a saída de Vieira e a eleição de Rui Costa foi positiva para o Benfica.

Quão positiva foi? A resposta é 4,2 milhões de euros, de acordo com o Relatório e Contas do Benfica para o exercício de julho de 2022 a junho de 2023.

Após duas temporadas com resultados financeiros no vermelho, na parte final do mandato de Luís Filipe Vieira, o Benfica voltava aos lucros.

Rui Costa, o príncipe de Florença, junta assim o bom desempenho financeiro ao sucesso desportivo. Campeão como jogador, logo no primeiro ano como presidente volta a ser campeão pelo Benfica.

Mas o que reserva o futuro a Rui Costa? Será o Benfica campeão outra vez? Como vai terminar o megaprocesso de corrupção em que Rui Costa é arguido? Será candidato nas próximas eleições do Benfica?

Resta aguardar pelos próximos capítulos desta biografia de Rui Costa.